DIA DE SÃO AGRIPINO
Ou a esperteza de um publicitário brasileiro que transformou um mês fraco no comércio em um motivo para submeter esposas e namoradas a uma hipoglicemia na porta do restaurante esperando mesa.
— Alô? Gilmar? Sou eu!
— Oi meu bem! Diga!
— Já está saindo do trabalho?
— Estava pensando em fazer uma ou duas horas extras, tem muita coisa atrasada aqui.
— Como assim hora extra? Não tá esquecendo de nada não, bonitinho da cara feia?
— Ih, lá vem!
— Amor, dia dos namorados e você quer fazer hora extra? Eu não acredito nisso!
— Dia dos namorados, Eunice? Fala sério, mulher! Isso é só invencionice do comércio.
— Tudo pra você é comércio! Se deixasse por sua conta, natal, dia das mães, dia das crianças, passavam tudo em branco.
— E qual o problema? É tudo invenção pra vender mais, Eunice. Dia dos namorados com você é todo dia, sua linda!
— Não vem com essa conversa mole não. Pode vir embora pra casa tomar banho e me levar pra jantar em algum lugar. Onde já se viu, passar em branco justamente o dia de hoje?
— Eunice, sabe aquele ex-governador de São Paulo que você falou sobre a roupa dele?
— Tá desconversando é?
— Não mulher, quero te explicar uma coisa. Lembra, você disse que achava as calças dele muito coloridas e apertadas. Até chamou ele de Restart aposentado.
— O que tem ele?
— Então, foi o pai dele, o João Agripino Dória Neto que inventou esse dia dos namorados em pleno mês de junho.
— Olha, Gilmar. Se você não quiser me levar pra jantar no dia dos namorados, é só dizer.
— Mas é verdade, mulher. Eu não estou inventando nada, quem inventou foi ele!
— Quer dizer então que eu mandei as crianças para a casa da mamãe à toa?
— Não é isso, mulher. Estou só te dizendo que o dia dos namorados…
— Tá, bom, vou pegar o carro e vou buscar as crianças.
— Ah, meu bem. Já que você já levou, deixa eles lá, vamos aproveitar.
— Aproveitar o quê, moço? Hoje não é um dia comum?
— Deixa disso, você entendeu!
— Não entendi não, Gilmar. Ou é dia dos namorados e a gente vai sair para jantar fora, ou é um dia como outro qualquer e eu vou buscar as crianças. O acesso ao parquinho passa pelo restaurante, meu caro.
— Tá bom, tá bom! Vamos ao restaurante então. Como meu chefe já viajou e só volta semana que vem, posso adiantar tudo amanhã.
— Uhuuu! É assim que se fala, amor!
— Tá sabendo que a gente vai ficar com fome na porta do restaurante esperando por mesa, né?
— A minha fome é outra, Gilmar!
— Opa, gostei!
— Não é nada disso, seu palhaço. É fome de sair de casa, de passear, de ver gente…
— Mas você entende os meus motivos, né? Esse feriado foi inventado só para aquecer um mês fraco de vendas, não é dia de santo nem nada. É só pra fazer a população gastar.
— E você, como um membro economicamente ativo da população, vai gastar hoje. E se continuar com essa conversa, eu vou escolher o prato pelo preço.
— Já não está mais aqui quem falou! Topa um cachorro-quente no morte lenta?
— Gilmaaar!!
— Calma, mulher estou brincando. Já estou saindo daqui, chego em meia hora.
— Comprou o meu presente?
— Que presente, Eunice? Tá doida?
— Calma, fofo! Agora quem está brincando sou eu.